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Marta Branquinho Garcia

Coordenadora GIS1-Empoderamento Feminino e Igualdade de Género da BasN.

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Marise Almeida

Vice-presidente do Conselho Fiscal da BasN.

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A crise pandémica que atravessamos permite-nos refletir sobre as questões de empoderamento feminino e igualdade de género e do papel das lideranças femininas na capacidade de gestão de crises complexas e multidimensionais.

Descrevemos alguns casos de sucesso face a esta epidemia que nos retira a liberdade a todos… enaltecemos também a assertividade e a força de determinadas líderes mulheres nos países que governam neste momento.

Taiwan, Alemanha e Nova Zelândia, foram os casos escolhidos pela CNN e comentados agora por nós.

Factos:

– Em Taiwan, as rápidas medidas tomadas controlaram a pandemia de uma forma tão incisiva que neste momento já exportam milhões de máscaras para ajudar a União Europeia e outros países.

– A Alemanha conseguiu levar a cabo o maior programa de testes na Europa, cerca de 350 000 por semana, conseguindo com isto, detetar o vírus com a antecedência suficiente por forma a tratar os doentes atempadamente e proteger globalmente o resto da população.

– Na Nova Zelândia, a primeira-ministra tomou muito cedo a decisão de fechar portas ao turismo e impôs um mês de total encerramento do país. Esta medida, logo no estado inicial de propagação do vírus, fez com que o número de mortes associados à COVID19 fosse mínima, em comparação com outros países.

Falamos-vos destes três países porque foram de facto, até agora, considerados casos de sucesso, se se puder escrever esta palavra caracterizando alguma coisa desta época…

Estes três locais, têm uma coisa em comum: são todos liderados por mulheres!

Estes países – todos com democracias multipartidárias, com altos níveis de confiança pública nos seus governos – contiveram a pandemia através de tomada de decisões precoces baseadas na evidência e suporte da ciência. Implementaram testes generalizados, acesso facilitado a tratamento médico de qualidade, despiste agressivo de contactos e restrições severas a aglomerados sociais. Com enorme coragem e determinação.

Mais factos:

Na Finlândia, por exemplo, até à data, contam-se cerca de 190 mortes numa população de 5,5 milhões.

Na Islândia, apenas com 360 000 habitantes, a estratégia também foi a de testar em grande escala, concluindo-se que cerca de 50% das pessoas que testavam positivo eram assintomáticas.

Quatro dos cinco países nórdicos, têm uma coisa em comum: são liderados por mulheres!

E todos eles têm taxas baixíssimas de mortes por COVID-19, comparativamente com o resto da Europa.

Estes exemplos mostram que um número desproporcionalmente grande de líderes que agiram cedo e decisivamente, são mulheres.

No entanto, em janeiro de 2020, apenas 10 dos 152 Chefes de Estado eram mulheres. O mapa “Women in politics: 2020” criado pela União Interparlamentar (IPU) e a UN Women, que apresenta os rankings globais da presença de mulheres em funções executivas, parlamentares e de governação mostra claramente a sob representação de mulheres em todos os níveis de poder. Quer no domínio da esfera local quer na esfera global, a participação das mulheres em posições de liderança no setor privado e no público é bastante restritiva. Isto ocorre apesar de todas as evidências das suas competências como líderes e como agentes de mudança, onde os exemplos que descrevemos relativamente à gestão da atual pandemia de Covid-19 são bem ilustrativos.

Os obstáculos à participação na vida política envolvem barreiras estruturais suportadas por leis e instituições discriminatórias, que limitam as mulheres a seguirem opções a posições de liderança. Muitas mulheres, individualmente, conseguem ultrapassar estes obstáculos, com grande sentido de missão, sendo bastante aclamadas no seio da sociedade, a mesma que por outro lado, ainda permite que as mulheres, como um todo, em muitas partes do mundo, continuem a ser largamente marginalizadas de vários contextos da vida, nomeadamente daqueles onde se configuram funções de liderança.

Este ano marca o 25º aniversário da Plataforma para Ação de Pequim que foi instituída com o intuito de ser inovadora e disruptiva no que diz respeitos às questões da igualdade de género. Na Europa, o Lobby Europeu para as Mulheres (LEM) publicou recentemente o seu relatório intitulado “25 years of the Beijing Declaration andPlatform for Action 1995-2020- The time to deliver is now” no qual avalia os progressos alcançados na união europeia nestas temáticas. A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM), membro do LEM e à semelhança desta sua iniciativa pretende publicar um relatório com enfoque na realidade portuguesa nos últimos 5 anos, para assinalar esta data. O relatório Pequim+25 da PpDM encontra-se, no momento, em fase de elaboração, tendo a BasN dado o seu contributo com testemunhos das suas atividades nas vertentes: mulheres na tomada de decisão, transformação feminista da economia e alterações climáticas.

Apesar dos sucessos já alcançados há ainda um longo caminho a percorrer.

Já é tempo de reconhecermos que o mundo precisa urgentemente de mais mulheres líderes e de igual representação de mulheres em todos os níveis da política.

No mínimo, o número desproporcional de mulheres líderes que conseguiram controlar essa pandemia – até agora – deve mostrar-nos que a igualdade de género é fundamental para a saúde pública global e segurança internacional.