Skip to main content

Pedro Penalva

Chief Commercial Officer, Multinational Accounts – EMEA da Aon

Linkedin

“May you live in interesting times”.

Esta citação está envolvida numa polémica que ultrapassa a sua origem e estende-se ao seu significado. Contrariamente ao comumente aceite não é nem antiga nem sequer Chinesa.

Na realidade é Ocidental e contemporânea. Sendo entendida por uns como uma bênção, reflexo de uma positividade sobre um futuro em mudança e, por outros como uma maldição, por significar uma necessidade constante de ajustamento, muitas vezes penoso, a novas realidades.

Ao olharmos para o presente estado do planeta, não podemos deixar de pensar que vivemos tempos interessantes que são ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição.

O enorme desafio que a espécie humana enfrenta (na realidade o planeta Terra vai continuar a existir, o que está em causa são as condições para a sobrevivência da nossa espécie neste planeta) e o conjunto de acções imediatas e decisivas que terão que ser tomadas, desde já e nas próximas décadas, tornarão os próximos anos“interessantes” em todas as dimensões.

A União Europeia (UE) procura, neste tema tão decisivo e estratégico, assumir uma liderança e protagonismo globais e responder de forma integrada aos compromissos que derivam do Acordo de Paris de 2016 e também da Agenda das Nações Unidas para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (SDG Goals).

O Green Deal, elemento estruturante da visão de longo prazo da actual Comissão liderada por Ursula Von Der Leyen assume assim uma dimensão estratégica na forma como a UE irá responder a estes desafios, colocando este espaço económico como a referência global no combate às alterações climáticas e na procura de um modelo de desenvolvimento e crescimento económico sustentável nas várias dimensões do termo.

Os mecanismos de financiamento, alocação de capital, direcionamento de fluxos financeiros e a clara identificação de riscos são temas centrais do Green Deal, face às tremendas necessidades de investimento e também ao conjunto de riscos que se colocam perante as empresas e instituições financeiras.

Este conjunto de riscos, pela sua frequência de ocorrência e impacto, irão necessitar de alterações profundas na forma de os identificar, classificar e gerir.

Qualquer actividade económica está exposta a um conjunto muito amplo de riscos que podem impactar muito negativamente a sua actividade. O mercado segurador funciona como um sustentáculo da continuidade dos negócios, face à emergência de alguns desses riscos, com o seu modelo de mutualização e partilha de riscos.

A actividade seguradora desempenha aqui um papel central em duas dimensões primordiais: Em primeiro lugar enquanto maior investidor institucional global na forma como terá que direcionar os investimento para atividades sustentáveis (utilizando como marco o modelo de taxonomia de actividades sustentáveis aprovado pela UE) que apoiem a transição energética, a economia circular e a redução das emissões de gases de estufa; e por outro, enquanto tomadora de riscos e garante do funcionamento da economia global.

Torna-se assim fundamental avançar para modelos que garantam a inclusão dos riscos de sustentabilidade ede alterações climáticas nos modelos de análise quantitativa de risco (que determinam o custo a cobrar pela cobertura desses riscos), nos processos de identificação e cálculo do impacto de riscos e no cálculo das necessidades de capital das próprias seguradoras.

Estes são desafios que, estando já plasmados em várias das peças legislativas produzidas recentemente pelaUE, implicarão uma mudança profunda nos processos, modelos de pricing e avaliação actuarial e estruturas de governance dos seguradores.

Assistimos já a avanços relevantes como o abandono por parte de várias das maiores seguradoras globais da cobertura de riscos de centrais de produção de energia elétrica a carvão e também aos avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos na capacidade de modelização de fenómenos climáticos e naturais extremos(tempestades, inundações, terramotos, entre outros), possibilitando, não só a determinação da frequência de ocorrência esperada, como também o cálculo do seu impacto económico e social

Sem dúvida que vamos viver em tempos interessantes, cabe-nos a todos garantir que extraímos da citação a sua dimensão de optimismo e esperança num futuro melhor, mais sustentável e que garanta as condições de sobrevivência da espécie humana neste nosso planeta.