
Sofia Santos
Coordenador BasN / GIS7 – Finanças Sustentáveis e Sustainable & Climate Finance Specialist, Certified ESG Risk Analyst
A inclusão dos impactes das alterações climáticas no setor financeiro, em particular nos bancos, tem tido um desenvolvimento grande no último ano. Não só a Comissão Europeia colocou em discussão pública a próxima estratégia europeia para a sustainable finance, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco CentralEuropeu (BCE) têm manifestado a sua preocupação com a necessidade dos temas ambientais serem reconhecidos como riscos financeiros e, como tal, devam ser incorporados na estratégia, análise de risco, processos e pricing dos bancos.
Neste contexto, em Maio de 2020 o BCE publicou o “Guide on climate-related and environmental risks -Supervisory expectations relating to risk management and disclosure”, onde explicita as expectativas do BCE relativamente à forma como os riscos ambientais e climáticos deverão ser reportados pelos bancos. Trata-se de um Guia, e em consulta pública até 25 de setembro, a sua implementação não é obrigatória pelas instituições, servindo atualmente como uma base de diálogo por parte do supervisor. No entanto o BCE explicita 13expectativas que tem relativamente à forma como as instituições financeiras deveram incorporar os riscos ambientais e climáticos, das quais destaco as seguintes:
– Espera-se que as instituições financeiras entendam o impacte dos riscos ambientais e relacionados com o clima nos negócios em que operam, a curto, médio e longo prazo, para poderem tomar decisões informadas a nível estratégico e no negócio;
– Espera-se que a Administração considere riscos ambientais e relacionados com o clima quando desenvolver a estratégia de negócios geral da instituição, objetivos de negócios e gestão de riscos, devendo exercer uma supervisão eficaz dos riscos ambientais e relacionados com o clima;
– Espera-se que as instituições atribuam responsabilidade pela gestão de recursos relacionados com o clima e riscos ambientais dentro da estrutura organizacional, de acordo com as três linhas de modelo de defesa;
– As instituições com riscos materiais relacionados com ambiente e clima devem avaliar a adequação de seus testes de estresse com o objetivo de os incorporar na linha de base e nos cenários adversos
– Espera-se que as instituições incorporem riscos relacionados com o ambiente e clima como fatores determinantes nas categorias de risco estabelecidas na estrutura de gestão de riscos existente. Espera-se que as instituições identifiquem e quantifiquem esses riscos no processo geral de garantir a adequação do capital
– Para fins de divulgação reguladas, espera-se que as instituições publiquem informações e métricas-chave sobre os riscos materiais ambientais e relacionados com clima, no mínimo, de acordo com as Diretrizes daComissão Europeia sobre relatórios: Suplemento sobre o relatório de informações relacionadas ao clima.
Neste contexto torna-se claro que novas competências são necessárias no setor financeiro, constituindo este desafio também uma oportunidade para a banca se reinventar e ficar mais próxima da economia real e do cidadão.