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Dora Caria

Coordenadora BasN / GIS4 – Negócios e Soluções Circulares e de Baixo Carbono e Head of Circular Economy Engineering Solutions no grupo Landbell

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Bases para uma Estratégia de Economia Circular

A economia circular é uma ideia simples, uma visão alternativa à tradicional economia linear (take-make-waste),cujas externalidades ambientais se tornaram insustentáveis (alterações climáticas, depleção de recursos naturais, degeneração dos ecossistemas, etc.). Conceptualmente é largamente aceite de que a economia circular é uma mudança de paradigma necessária, no entanto, há que acelerar esta transição!

O mundo é hoje apenas 8,6% circular (The Circularity Gap Report 2020, PACE), um decréscimo de 0,5% do valor apresentado em 2018, quando pela primeira vez o índice foi calculado e comunicado. Isto demonstra que há um longo caminho a percorrer.

Organizações, sejam multinacionais ou startups, têm um papel decisivo nesta nova abordagem da economia e independentemente do seu sector de atividade e da sua dimensão, as organizações devem aceitar esta transformação como estratégica.

Uma oportunidade genuína de repensar negócio de forma disruptiva mantendo, no entanto, a sua continuidade, relevância e propósito.

A conectividade digital facilitou às organizações o envolvimento e o compromisso com os seus atuais e potenciais clientes, mas também trouxe novos desafios. Os consumidores, conscientes, exigem maior rastreabilidade e transparência. E ainda que, algumas ferramentas digitais simplifiquem a partilha e o acesso à informação sobre a origem e o impacte dos seus produtos e serviços (e.g. Internet of Things, Blockchain)também permite aos consumidores chegar mais facilmente às incongruências.

As organizações que embarcarem por um movimento estratégico de economia circular e o comuniquem abertamente devem evitar a tendência de se posicionar, junto dos seus stake-holders, de forma superficial, como meras manobras de marketing. As organizações devem encarar a estratégia de economia circular como nuclear para o futuro do seu negócio.

A definição de uma estratégia de economia circular é ainda mais crítica, para as organizações, quando perspetivamos modelos e padrões de consumo e analisamos os comportamentos dos seus futuros clientes, a geração Y ou Millennium (dependendo dos modelos, mas tipicamente os nascidos entre 1980-1994) ou a geração Z (nascidos entre 1995-2010). Estas gerações estão mais disponíveis a consumir produtos sustentáveis e valorizam o acesso a um produto/serviço, ao invés da sua propriedade, numa economia da partilha.

A relação simbiótica dos negócios com a natureza torna-se ainda mais visível quando percebida sobre a lupa de uma estratégia de economia circular. Os negócios dependem da natureza para a sua subsistência e sobrevivência (e.g. fonte de recursos, materiais e energéticos, mecanismos de retroalimentação) e pensar a economia circular de forma holística pode ajudar as organizações a reduzir custos operacionais e de distribuição, atrair novos clientes, garantir a lealdade dos consumidores e até mesmo amplificar a personalidade da sua marca, inspirar a inovação dos produtos (por vezes até imitando a natureza, biomimética), alterar a sua proposta de valor de produto para serviço ao mesmo tempo que regenera os sistemas naturais.

Parece fácil e quase poético, certo? Mas então porquê a demora?

As mudanças nunca são fáceis, especialmente as sistémicas e colaborativas, já que contam com múltiplos interesses (diferentes perspetivas do problema, várias abordagens às potenciais soluções e diversos stake-holders) que têm de se conjugar e culminar no momento certo.

Como estão os negócios a abraçar a circularidade?

A forma como cada organização operacionaliza a sua estratégia de transição para a economia circular vai depender de como se pretende posicionar na arena da concorrência futura. Mas ficam algumas considerações não exaustivas:

Desenhando Produtos para o Futuro

Closing Down the Loop – Incorporar materiais pós-consumo no fabrico de novos produtos e das suas embalagens, o que pressupõe envolver ativamente os consumidores na angariação e retorno desses produtos e materiais em fim de vida, em volume e com a qualidade necessárias para garantir a manutenção do close-loop. Para isso é também necessário intervir no desenho de novos produtos de forma a se introduzirem os materiais certos para aumentar a sua reciclabilidade quando alcançarem o seu fim-de-vida.

Slowing Down the Loop – Aumentar a extensão do(s) ciclo(s) de vida do produto e planear a sua obsolescência promovendo a modularidade para facilitar a atualização e o recondicionamento dos produtos e finalmente a sua reparação e reutilização.

Narrowing Down the Loop – Reduzir a quantidade de recursos ou aumentar a eficiência da sua utilização.

Aproveitando a Digitalização

Em diversas frentes, como para rastrear e otimizar o consumo e uso dos recursos, fortalecer e manter as ligações entre as várias redes de abastecimento e suas inversas, bem como facilitar a sua coordenação, aumentar a transparência e melhorar a colaboração.

Repensar o Modelo de Negócio

Considerar oportunidades para criar valor adicional e alinhar interesses entre várias redes de abastecimento, de distribuição e de logística inversa e encontrar novas formas de envolver os clientes na circularidade, criando fidelidade e assim aumentar os seus ganhos e as suas hipóteses futuras de sucesso.

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