Margarida Couceiro Feio

Associada BasN, Estudante de Economia no ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Vice-Presidente da Associação de Estudantes ISEG+Solidário.

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Quando nós, os jovens, começamos a ver a nossa caminhada académica a chegar ao fim, inúmeras questões invadem as nossas cabeças, mas, e porque há sempre um mas, existe uma questão que só nós, mulheres e jovens adultas, sentem e que é tão difícil de ignorar como uma gota de água a cair à noite: Sou uma mulher no Mercado de Trabalho.

Estava num almoço e, conversa entre conversa, houve uma frase, que de certa forma, pôs-me a refletir: “Só os homens é que compram iates”, mas porquê? Toda esta questão é fruto de um problema conjuntural, muito mais intrínseco e que prevalece até hoje: A desigualdade de género no mercado de trabalho.

“Around me I saw women overworked and underpaid, doing men’s work at half men’s wages, not because their work was inferior, but because they were women…” – Anna Howard Shaw.

De acordo com um estudo feito pela Organização Internacional do trabalho (OIT), Portugal é considerado como um dos países com maior fosso salarial entre géneros, referindo que os homens ganham, em média, mais de 22,1% do que o género feminino.

Esta realidade assusta e parece que não tem fim. Com base num artigo da Financial Times e de uma previsão da World Economic Forum, as mulheres de todos os cantos do mundo terão de esperar cerca de dois séculos, para que este “gap” entre géneros se feche por completo. Efetivamente, com base numa análise mais global, estudos mostram que a desigualdade de género no mercado de trabalho não tem vindo a melhorar de forma significativa nas últimas décadas. É uma luta contra a corrente, onde parece que não saímos do mesmo sítio.

Porém, a cada dia que passa, depois de anos de luta por um espaço digno e equitativo, por liberdade de escolha e de SER simplesmente, as mulheres estão a conquistar cada vez mais o seu espaço no mercado de trabalho, existindo casos de sucesso como a Paula Amorim (chairman da Galp) e a Cláudia Azevedo (CEO da Sonae) e leis como a “Lei das Quotas no parlamento” que obriga as empresas públicas a terem, no mínimo 33,3% de mulheres nos órgãos de administração e fiscalização e as empresas cotadas em bolsa a terem uma proporção, no mínimo, de 20%, mas todas estas conquistas continuam a não ser suficientes. Globalmente apenas 27,1% dos líderes e gestores são mulheres, “um número que mudou muito pouco nos últimos 27 anos” (de acordo com o estudo feito pela OIT).

Assim, eu pergunto-me “Como é que é suposto eu comprar um iate?” se a minha natureza funciona como um travão para um sucesso justo e igual. “Como é que é suposto eu comprar um iate?” se apesar de ainda não ter entrado no mercado de trabalho, já me estão a cortar as pernas. “Como é que é suposto eu comprar um iate?” se um homem por ser simplesmente homem é considerado melhor que eu?

Não é justo. Mas a vontade de sonhar, lutar, querer e mudar é nossa e só nossa. Se o céu é o limite, baixar os braços não é opção.